quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Sorria! você está sendo gravado

Imagine a seguinte cena: você está batendo papo com um amigo enquanto seu celular está quietinho em cima da mesa à sua frente. Você comenta sobre um par de tênis branco que está louco para comprar. No dia seguinte, você abre o Facebook e se depara com infinitos anúncios de tênis brancos. Outra situação hipotética: você entra no McDonald's e, misteriosamente, recebe uma notificação perguntando se você deseja instalar o app da rede de fast food em seu smartphone. 

Já aconteceu algo parecido com você? É muito provável que a resposta seja "sim". O assunto não é novidade, mas voltou à tona esta semana após um post com o relato pessoal de um escritor viralizar na rede social de Mark Zuckerberg. 

A pergunta que não quer calar em casos como este é: você realmente está sendo gravado ou é tudo paranoia? Para o desespero de muitos, a resposta é positiva. 

Desde a época em que Edward Snowden dedurou os métodos de espionagem pouco ortodoxos da Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA), em 2013, as pessoas ficaram em estado de alerta sobre a possibilidade de seus smartphones estarem sendo alvos de supervisão secreta de terceiros. 

Para evitar desespero e correria, vamos entender melhor como funciona parte da coleta de dados das gigantes da tecnologia e aprender como evitar ter suas informações pessoais monitoradas. 

Anúncios 

A maioria dos serviços do Google é gratuita, e isso acontece porque a maior parte da renda da empresa deriva de anúncios publicitários. Mas para que isso funcione bem para os anunciantes, é preciso que a propaganda chegue até os clientes. Provavelmente, ao navegar na Internet, ler seus e-mails e fazer compras on-line, você já notou esse mecanismo por meio da aparição de anúncios relacionados ao que está pesquisando ou visualizando. 

Para conseguir essas informações, o Google usa cookies de rastreamento e outros métodos para criar um perfil de publicidade em torno de você a partir de suas ações na web. É muito difícil evitá-los durante a navegação, mas você pode usar a sua conta para ver algumas dessas informações agora mesmo. 

Na página de Configurações de anúncios do Google, é possível ajustar alguns detalhes e até mesmo desativar os anúncios com base em interesses. O Google alerta que, depois da desativação, você ainda visualizará anúncios, mas eles não serão baseados nos dados que o Google associou à sua conta – consultas de pesquisas anteriores, vídeos assistidos no YouTube, faixa etária, sexo, entre outros – e, por isso, podem ser menos relevantes. 

Microfone
Há anos o Google pode ouvir coisas que você diz enquanto está próximo do seu celular ou computador com microfone – e você também pode ouvi-las se quiser. Isso acontece graças ao recurso que permite aos usuários realizar pesquisas usando apenas a voz. O que muitas pessoas não sabem é que o Google grava e armazena esses registros de áudio para usá-los em prol das suas ferramentas de reconhecimento de linguagem e da melhora dos resultados de buscas e anúncios oferecidos aos usuários. 

Enquanto as tais gravações podem parecer interessantes para alguns usuários, outros podem tomá-las como um grande sinal vermelho para a sua privacidade. Se você quiser matar a curiosidade e saber o que andou falando depois de um "Ok, Google" no seu smartphone, tablet ou computador, basta acessar uma página dedicada ao armazenamento dos seus áudios. Para deletá-los, basta procurar pelos três pontinhos na vertical que indicam o menu, clicar em "Excluir atividade por" e selecionar o período desejado.  
Na aba "Controle de Atividades", localizada na coluna à esquerda da página, também é possível verificar coisas como os locais por onde você andou – e o Google descobriu graças ao Maps – e seu histórico do YouTube. 

Aproveite a visita para gerenciar os dados coletados pelo Google sem o seu conhecimento e, se quiser zelar pelas suas informações particulares, apagar tudo o que achar devido. 

Bate-papo 

Nesta quarta-feira (21), o onipresente Google lançou o Allo, seu aplicativo de mensagens instantâneas para concorrer com o WhatsApp. No entanto, o mensageiro mal chegou ao mercado e já está envolto em uma polêmica relacionada à privacidade dos usuários. 

Enquanto o WhatsApp jura de pés juntos que não armazena nenhuma conversa de seus usuários, o Allo aposta exatamente no oposto e mantém o controle sobre todas as mensagens trocadas na plataforma. Isso acontece porque uma das principais características do app é o Google Assistant, uma ferramenta de inteligência artificial que pode ler suas conversas, uma vez que elas não possuem criptografia ponta-a-ponta, e as usar para realizar buscas online – traduções, rotas, status de voo, entre outros – sem precisar sair do chat. 

Ainda mais assustador pode ser o recurso Smart Replies, que oferece respostas automáticas de acordo com o conteúdo da conversa e o histórico do usuário. Por exemplo, se um amigo lhe envia uma mensagem no Allo perguntando como foi o seu dia, o Assistant pode oferecer de cara a resposta "bom", sem a sua interferência. E, presumivelmente, o Google também aproveitar esses dados para oferecer anúncios "convenientes" para você.
O próprio Edward Snowden já usou sua conta no Twitter para pedir que as pessoas não baixem o Allo. "O que #Allo? Um app do Google que grava todas as mensagens que você nunca enviou e as torna disponíveis a pedido da polícia", escreveu o ex-analista. 

É claro que o Google oferece uma espécie de uso "privado" (Incognito) do Allo, onde as conversas serão criptografadas de ponta-a-ponta e a empresa não conseguirá ler seu conteúdo. No entanto, é importante destacar que este modo não é ativado por padrão, portanto lembre-se de ativá-lo caso queira tentar preservar sua privacidade ao usar o app para conversar com seus amigos. Outra opção é sempre deletar o seu histórico, uma vez que sem o uso do Assistant, o Allo não terá grandes diferenciais. 

 WhatsApp, Facebook Messenger, Telegram e iMessage são exemplos de mensageiros que possuem a opção de "conversas secretas" por meio da criptografia ponta-a-ponta. Isto assegura que somente você e a pessoa com que você está se comunicando podem ler o que é enviado e ninguém mais, nem mesmo a empresa por trás do aplicativo em questão. No caso do WhatsApp, FaceTime e iMessage, a criptografia de ponta-a-ponta está sempre ativada por padrão. Já no Messenger, Telegram e Allo, é preciso ativá-la manualmente – lembrando que o recurso de chat secreto do Facebook Messenger ainda está em fase de testes. 

Dicas 

Outras dicas para manter sua privacidade no mundo digital incluem medidas simples, como: 

  • Cobrir sua webcam com um pedaço de fita adesiva. Pode parecer bobo, mas até mesmo o diretor do FBI e Mark Zuckerberg mostraram ser adeptos da técnica de bloqueio; 
  • Ter cuidado ao acessar redes Wi-Fi desconhecidas, públicas ou desprotegidas; 
  • Desativar serviços de geolocalização; 
  • Limpar seu histórico de navegação com frequência para evitar que outros sites rastreiem seus hábitos e interesses; 
  • Somente permitir a administração remota dos dispositivos a partir da Internet se ela realmente for necessária; 
  • Nunca clicar em links suspeitos que chegam por e-mail, redes sociais, SMS e afins.

Fonte: Canaltech

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