Quem já não se encantou pela magia dos mitos? Quem já leu tais contos e não ficou admirado com feitos heróicos e deuses poderosos; atraído pela fantasia tão bem elaborada em tempos remotos? De certo, tal encantamento não pode ser oriundo apenas de uma afinidade pela ficção; os textos mitológicos são muito mais que meras estórias – carregam uma vasta relação com a natureza humana e suas manifestações. Ou seja, a mitologia pode ser muito mais verossímil do que se pensa.Um dos aspectos mais explícitos da relação “mito-realidade” é a importância que as questões religiosas têm na mitologia. Em muitos dos contos mitológicos, pode-se ler sobre os ritos e sacrifícios a serem prestados a um deus (ou deuses), ou como eram castigados aqueles que iam de encontro à vontade deste(s) deus(es). Tudo isso, bem como as constantes atribuições de qualquer fenômeno aos desígnios de uma força sobrenatural, denotam que, mesmo com algumas divergências quanto ao que transmitem, mito e religião não diferem quanto ao modo que narram ou à veracidade do que narram.
Outra faceta dos mitos está em sua proximidade com a psicologia. O próprio Freud considerava que, mais do que simples composições fantásticas sobre como povos ancestrais viam o mundo, os mitos seriam manifestações metafóricas dos sentimentos, do inconsciente destes povos. Neste mesmo raciocínio, Freud recorreu a um mito grego para dar nome ao complexo de Édipo: o mito do rapaz que mata o pai e se casa com a mãe seria uma representação da atração de caráter sexual que o filho, durante a infância, sente pela mãe, tal como o desejo de superar o pai.
O mito é, também, estreitamente relacionado com a formação cultural de uma sociedade. Surgido como uma simples narração passada verbalmente pelas gerações, o mito foi, com o tempo, trabalhado e adaptado, reorganizado de modo a parecer mais coerente; mas mesmo tais alterações não fizeram com que se perdesse por completo a sua essência. Ao invés de se descaracterizar, o mito ganhou nova riqueza de conteúdo; passou a abranger toda uma narrativa do processo histórico-evolutivo das sociedades que o compunham. Ou seja, em sua linguagem simbólica, o mito não mais relata somente um acontecimento histórico (exemplo: O ataque das tropas gregas à ilha de Creta), mas também todo o contexto que levou a tal fato, bem como suas conseqüências (o que, no mesmo exemplo, seria: a devastação da civilização cretense e a conseqüente corrupção da cultura local, “misturada” com a grega).
Felizmente, mesmo com tantas mudanças ao longo da história, ainda pode-se ver em cada conto mitológico seu autêntico caráter simbólico, imaginativo, impossível de ser traduzido apenas pelo sentido literal; o mito não mais pode ser considerado um simples conto, torna-se sublime obra de arte da consciência humana – criação que inspira novas obras.
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