Acordo, sobressaltado,
e olho para o relógio-despertador na cabeceira da cama. São 07:30 da manhã.
Sábado. O sol brilha lá fora. Escuto o som dos carros, dos pássaros nas
árvores, de conversas ao longe. De repente, lembro-me da dia: 22 de dezembro. 2012.
Descobri o óbvio: o mundo não acabou. Meio lerdo, levanto e olho pela janela, a
claridade me ofusca a visão. O mundo continua o mesmo. Nada mudou. "era
pra ter sido ontem", penso comigo. Como eu havia deitado mais cedo, antes
da meia-noite, imaginei que nosso lindo planeta azul sofresse a tão tenebrosa
destruição profética nas horas restantes que antecedessem a virada da data. Eu iria
estar dormindo mesmo, que importava? Mas ao acordar no dia seguinte, vi que não
houve fim algum. Estaria o calendário Maia equivocado com o dia correto?
Do fundo de meu ser, um
sorriso tímido, mas sarcástico, surge em minha face. Na verdade, era como eu
imaginava. Não ia haver fim algum. Só se fosse o de um ciclo, mas não físico, e
sim evolutivo. Evolução da mente humana. Bem que poderia ser. Imaginava que o
ser humano acordasse com uma nova mentalidade, superior, de sua própria existência.
Um salto na evolução de nossa espécie. Não precisaria que fôssemos destruídos,
mas transformados. Mas isso só o tempo iria mostrar.
Agora fico imaginando:
como ficarão os religiosos, principalmente os fanáticos, que aproveitam
qualquer brecha para engabelarem o povo com um monte de baboseira sem sentido
algum? E aí, grandes "profetas" do século XXI, cadê vocês? O que vão
explicar para o mundo sobrevivente?
E o pior disso tudo, é
que tem muita gente sem preparo algum que acredita nessas crendices e acabam
destruindo verdadeiramente suas vidas, em detrimento de uma farsa. Ou, no mínimo,
uma interpretação totalmente errônea da suposta profecia.
Mas de onde veio a
idéia de que era uma profecia ? De onde tiraram isso ? E como isso se encaixa
nos dias atuais em que estamos vivendo em nosso planeta ? Primeiramente,
precisamos investigar a história desse calendário, usando diversas fontes.
História
Os maias se originam de uma região chamada Mesoamérica,
ou América Média. A região fica entre o México e a América do Sul e era o lar
de muitas outras culturas, incluindo os astecas, os olmec, os teotihuacan e os
toltec. Os maias viveram onde hoje está a Guatemala, Belize, Honduras, El
Salvador e o sul do México (Yucatán, Campeche, Quintana Roo Tabasco e Chiapas).
A história maia é dividida em três períodos:
- formativa ou Pré-clássica: 2000 a.C. até 300 d.C;
- clássica: 300 d.C. até 900 d.C;
- pós-clássica: 900 d.C. até a Inquisição espanhola em meados de 1400.
Os mesoamericanos começaram a escrever na metade do período
pré-clássico . Os maias foram os primeiros a manter um tipo de registro
histórico e então, surgiram os primórdios do calendário. Os maias utilizavam os
stelae, ou monumentos de pedra, para marcar os eventos civis, os
calendários e o conhecimento em astronomia. Eles também registraram suas
crenças religiosas e a mitologia em cerâmicas.
Os maias não foram os primeiros a usarem um calendário –
existiram calendários antigos usados por civilizações do mundo todo – mas eles
realmente inventaram quatro calendários diferentes. Dependendo de suas
necessidades, os maias usavam diferentes calendários para registrar cada
evento, sejam sozinhos ou uma combinação de dois calendários.
Veremos agora o primeiro calendário utilizado pelos maias, o
calendário Tzolk’in.
O calendário tzolk’in foi o primeiro utilizado pelos
maias. A maioria dos calendários utilizados na Mesoamérica eram compostos por
260 dias. O calendário tzolk’in, ou círculo sagrado, seguiu a mesma convenção.
Uma teoria para essa duração de 260 dias é a duração da gravidez, e esse
calendário foi baseado nisto. Outros dizem que era o tempo usado para cultivar
milho. É mais correto que tenha sido baseado em números.
Os números tinham grande significado na cultura maia. Por exemplo,
o número 20 significa o número de dígitos que uma pessoa possui – 10 dedos nas
mãos e 10 dedos nos pés. O número 13 se refere às juntas principais do corpo
humano por onde se acredita que as doenças entram para atacar – um pescoço,
dois ombros, dois cotovelos, dois pulsos, dois quadris, dois joelhos e dois
calcanhares. O número 13 também representava os níveis do paraíso onde os
lordes sagrados reinavam sobre a Terra.
São estes números, 20 e 13, que são utilizados para fazer o
calendário tzolk’in. No calendário gregoriano, nós temos sete dias da semana e,
dependendo do mês, de 28 a 31 dias. O calendário tzolk’in é feito de 20 nomes
de dias e 13 números. Os dias são numerados de um a 13 e os nomes também
aparecem em uma seqüência.
O início do calendário tzolk’in começa com o primeiro nome
de dia , imix’, e o número um. Os dias continuam em seqüência até que todos os
13 números sejam usados. Então, os números começam novamente com um, mas os
nomes dos dias continuam com o 14° dia. Quando chegar no 13 b’en, você deve
continuar com 1 Ix, 2 men, 3 kib’, e assim por diante até 7 ajaw. Neste ponto,
os nomes dos dias começam de novo, mas os números continuam: 8 Imix’, 9 Ik’, 10
ak’b'al, e assim por diante.
Pense em duas engrenagens trabalhando em conjunto. Uma
possui os 20 nomes dos dias e seus hieróglifos correspondentes. A outra menor
possui os números de um a 13. Se você prender essas engrenagens uma na outra no
número 1 com o dia Imix’, e depois girá-las até chegar no um com Imix’
novamente, você terá 260 dias, completando todo os calendário tzolk’in.
É fácil perceber a importância que os maias colocavam no
calendário tzolk’in. Por exemplo, eles acreditavam que a data do seu nascimento
determinava as características que você demonstra em sua personalidade – quase
a mesma crença que as pessoas têm sobre na astrologia atual.
Os maias também utilizavam o calendário para determinar a
agenda da colheita: É preciso um ciclo de 260 dias para preparar a terra e
plantar o milho, e um ciclo de 260 dias para cultivar e colher o milho.
Os homens sagrados utilizavam o calendário para determinar
quando eventos aconteceriam ao longo do ano. No início de cada uinal (período
de 20 dias), um xamã contaria a partir daí para determinar quando os eventos e
as cerimônias religiosas aconteceriam. Então, ele ajustava as datas que seriam
as mais prósperas ou mais afortunadas para a comunidade.
Enquanto estas foram algumas das utilizações do calendário
tzolk’in, ele não podia ser utilizado para qualquer coisa. Por exemplo, ele não
media um ano solar, o tempo necessário para que o Sol complete um ciclo.
Por causa disso, os maias precisavam de um calendário mais preciso para medir o
que nós conhecemos como um ano completo.
Agora veremos as próximas tentativas, o calendário haab e o
ciclo do calendário.
O calendário haab
e o ciclo de calendário
O calendário haab é muito parecido com o calendário
gregoriano que utilizamos atualmente. Ele é baseado no ciclo do Sol, e era
utilizado nas atividades de agricultura, de economia e de contabilidade. Muito
parecido com o calendário tzolk’in , também era composto de uinals e cada dia
tinha seu próprio hieróglifo e um número. Todavia, ao invés de usar 13 uinals
para 260 dias, o calendário Haab tinha 18 uinals, resultando em 360 dias.
Os astrônomos perceberam que 360 dias não eram suficientes
para que o Sol completasse o seu ciclo. Eles argumentaram que o calendário
deveria seguir o ciclo o mais próximo possível a fim de se obter uma precisão.
Entretanto, os matemáticos maias não percebiam dessa maneira. Eles queriam
manter as coisas mais simples, em conjuntos de 20, assim como o seu sistema
matemático. Os astrônomos e os matemáticos finalmente concordaram com os 18
uinals, com cinco “dias sem nomes” chamados de wayeb.
O wayeb, ou uayeb, é considerado um “mês” de cinco dias e é
conhecido por ser uma época muito perigosa. Os maias acreditavam que os deuses
descansavam durante esse período, deixando a Terra desprotegida. Os maias
realizavam cerimônias e rituais durante o wayeb na esperança de que os deuses
retornassem novamente.
Enquanto esse calendário era mais longo do que o tzolk’in,
os maias queriam criar um outro que pudesse registrar ainda mais tempo. Por
essa razão, os calendários tzolk’in e Haab foram combinados para criar o ciclo
de calendário.
No ciclo de calendário, os 260 dias do calendário tzolk’in
são combinados com os 360 dias e os cinco dias sem nome do calendário haab. Os
dois calendários são combinados do mesmo modo dos dias e números do tzolk’in
(lembre-se da ilustração das engrenagens da segunda página). Isso dá ao ciclo
de calendário 18.890 dias únicos, um período de tempo de cerca de 52 anos.
Nem o calendário tzolk’in e nem o calendário haab contavam
mais do que um ano. Os maias queriam registrar a história e decidiram criar um
calendário que os daria um período maior do que um ano. Na época, o ciclo de
calendário foi o mais longo da Mesoamérica. Os historiadores da época,
entretanto, queriam registrar a história maia para as gerações futuras. Eles
queriam um calendário que os levaria através de centenas ou até milhares de
anos (o que nós descreveríamos como séculos e milênios). Entra o calendário de
longa contagem.
O calendário de
longa contagem
Infelizmente, o calendário de longa contagem não é tão
simples como combinar dois calendários para se ter novas datas. É um pouco mais
complicado e abstrato. A fim de entender a longa contagem, você primeiro
precisa estar familiarizado com alguns termos:
- um dia – kin
- 20 dias – uinal
- 360 dias – tun
- 7.200 dias – katun
- 144.000 dias – baktun
A duração do calendário de longa contagem é chamada de o grande
ciclo, e tem aproximadamente 5.125,36 anos. Para encontrar a data do
calendário de longa contagem correspondente a qualquer data gregoriana, você
vai precisar contar os dias a partir do início do último grande ciclo. Mas,
determinar quando o último ciclo começou e combiná-lo com uma data gregoriana é
um desafio e tanto. O antropólogo inglês, Sir Eric Thompson se encarregou de
determinar a data e ele pesquisou a Inquisição espanhola para auxiliá-lo.
O resultado ficou conhecido como a Correlação Thompson.
Os eventos da Inquisição foram registrados no calendário maia de longa contagem
e no calendário gregoriano. Os estudiosos então reuniram datas que combinavam
em ambos os calendários e as compararam com o Código Dresden, um dos
quatro documentos maias que sobreviveram à Inquisição. Esse código confirmou a
data há muito tempo tida por Thompson como sendo o início do grande ciclo atual
– 13 de agosto de 3114 a.C.
Agora que encontramos o início do grande ciclo, vamos
colocar a longa contagem em prática. Nós iremos usar uma data que é familiar
para muitas pessoas – 20 de julho de 1969, o dia em que a Apollo 11 pousou na
Lua. No calendário de longa contagem, esta data é representada como
12.17.15.17.0. Você perceberá que existem cinco números nesta data. Lendo da
esquerda para a direita, o primeiro lugar significa o número de baktuns desde o
início do Grande Ciclo. Neste caso, existiram 12 baktuns, ou 1.728.000 dias
(144.000 x 12) desde 13 de agosto de 3114. O segundo número está relacionado ao
número de katuns que passaram. Então, ele continua à direita com o número de
tuns, uinals e kins.
Agora que já explicamos como funciona o calendário, iremos
proceder agora à raiz de toda essa celeuma, que é o ano de 2012.
O calendário de conta longa é apenas um entre os vários que
os maias usavam. Assim como os nossos meses, anos e séculos, ele se estrutura
em unidades de tempo cada vez maiores. Cada 20 dias formam um “mês”, ou uinal.
Cada 18 uinals, 1 tun, ou “ano”, cada 20 tuns faziam um katun e assim
sucessivamente. Enquanto o nosso sistema de contagem de séculos não leva a um
fim, o calendário de conta longa maia dura cerca de 5.200 anos e se encerra na
data 13.0.0.0.0, que para muitos estudiosos (infelizmente não há um consenso a
respeito) corresponde ao nosso 21/12/2012 no calendário gregoriano.
Isso não significa que eles esperassem pelo fim do mundo
naquele dia. Ou seja, os povos ameríndios não tinham apenas uma concepção
linear de tempo, que permitisse pensar num fim absoluto. E em nenhum lugar se
diz que o ciclo que estamos vivendo seria o último. A maioria dos estudiosos
acredita que, após chegar à data final, o calendário se reiniciaria. Assim
como, para nós, o 31 de dezembro é sucedido pelo 1 de janeiro, para eles o dia
22/12/2012 corresponderia ao dia 0.0.0.0.1.
A realidade é que a profecia maia é, do ponto de vista
científico, apenas um mito. E mesmo se existisse uma profecia, porque
uma cultura que fazia sacrifícios rituais humanos deveria ter qualquer
credibilidade em afirmar o que aconteceria séculos depois com o planeta?
Pior ainda, nem puderam prever o próprio fim..!
Tudo começou com a divulgação das descobertas arqueológicas
sobre a civilização maia, em que se desvendou a história de sua ascensão e
queda, o desenvolvimento científico e tecnológico antes de sua queda pelas mãos
dos espanhóis, a tradução dos escritos maias e depois divulgadas, um melhor
conhecimento de sua cultura e religião.
A inversão dos
pólos
Segundo um resumo fornecido pelo Observatório Nacional,
não se conhece qualquer relação entre inversão dos pólos e eras glaciais (que
mais tem a ver com o movimento dos oceanos). Há duas questões, aí. Falamos de
inversão dos pólos magnéticos. Como se sabe, a terra possui um campo magnético
e as linhas de fluxo deste campo seguem aproximadamente nossos pólos
geográficos. Temos indícios que esses pólos se invertem (o norte vai para o sul
e o sul para o norte, mas nada tem a ver com a rotação da terra). Não se sabe
exatamente porque esses pólos se invertem. O modelo é que a terra possui um
núcleo rico em metais ferro-magnéticos (ferro inclusive). O alinhamento do
campo magnético se dá, provavelmente, por influência do sol. Com esse modelo,
os pólos não se inverteriam. Para saber mais precisamos de informações que
estão próximas ao centro da terra e ainda não temos tecnologia para alcançá-lo
(a não ser em Hollywood). Outra questão é o “deslocamento” dos pólos
geográficos. Regiões, hoje cobertas pelo gelo, como a Antártida, sabemos que já
floresceram grandes florestas tropicais. Outras, hoje sob calor de torrar, já
foram cobertas de gelo.
Explicações para isso terminam no deslocamento do pólo,
coisa que também não sabemos por que e como se dá. Observamos, atualmente,
deslocamentos mais ou menos caóticos, de ordem de dezenas de metros, o que,
tampouco sabemos explicar.
Vale acrescentar que a revista Scientific American Brasil publicou em maio de 2005 um
artigo sobre o assunto, Viagem ao Geodínamo, por Gary A. Glatzmaier e
Peter Olson, onde relatam pesquisas sobre os mecanismos das inversões
magnéticas.
São 01:48 da
madrugada. Dia 05 de Dezembro de 2012. Termino de escrever sobre um fim que não
teve início. Fim esse que, para alguns tantos, foi uma grande satisfação por
não ter acontecido. Contudo, para muitos outros, com certeza, uma grande
decepção....
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